quarta-feira, 2 de abril de 2014

O estufar do peito e a circuncisão social.

Acabo de chegar de uma cerimônia acadêmica formal, da qual prefiro não entrar em detalhes para preservar a minha imagem e a das pessoas que ali estavam presentes. Uma das domadoras temporárias do microfone trouxe, em palavras muito bem escolhidas, afirmações pontiagudas sobre a indispensabilidade dos simbolismos e formalidades para o ritual de formação intelectual e humanística do ser humano que é o ensino superior. Isso, somado à indignação de alunos que sentiram-se - com razão - atacados pela locutora, o último episódio de How I Met Your Mother, a recente aquisição do DVD de Little Miss Sunshine, o discurso ditatorial do professor Eduardo Lobo Botelho Gualazzi e as distorções de movimentos sociais que tenho visto acontecer fizeram-me pensar e querer discorrer sobre um tema que ainda não se faz claro em minha cabeça: o direito à pomposidade e o efeito de protestos tardios.

O Brasil tem sido tomado por uma onda de pessoas sem base tomando a frente de movimentos mais sérios que suas mentes podem compreender, e por isso, vejo-me batendo de frente com indivíduos e grupos que dizem-se doutrinadas em movimentos que apóio e questionando minhas visões políticas (e até antropológicas, caso isso exista) para descobrir que não acredito em nada que já exista. Vejo-me constantemente em desespero, procurando um lugar no planeta que não esteja completamente louco e possa oferecer-me uma boa vida, sem jamais encontrar passagens disponíveis. Eu estou completamente assustado.

Há pouco mais de vinte e quatro horas, vesti um terno em homenagem a Barney Stinson e me dirigi à casa de minha companheira de gangue para ver os últimos episódios de How I Met Your Mother. A escolha de roupa extremamente simbolista me deixou suado e sem palavras ao ver o que havia acontecido (não se preocupe, não contarei spoilers). A série foi, de acordo com o meu ponto de vista, completamente desconstruída em dois episódios. Nove temporadas de vinte e tantos capítulos cada foram menos corridas que os últimos quarenta minutos em que eu absorvia o material inédito de personagens que faziam parte de mim. Me vi argumentando, em conversas quase filosóficas sobre a vida real, que não foi o fato acontecido, mas a forma com que ele havia se dado. De última hora, sem avisos prévios e sem coerência com seu estilo de enredo. Foi como desistir de entrar em casa após um longo dia para demolí-la ao invés disso.

Mas o fato que considero relevante para a ideia que pretendo expor é: eu vestia um terno. Qualquer pessoa que me conheça minimamente sabe que simbolismos me encantam. Opto por ações poéticas e teatrais demais para reger minha vida, mas isso é meu. Eu escolho ser desnecessariamente pomposo (já que creio que, algo que na prática é totalmente irrelevante, mas carrega um grande significado é, obrigatoriamente, lotado de pomposidade). Todo e qualquer simbolismo não feito por vontade própria torna-se um costume, no mínimo, questionável.

Tomemos como exemplo a clássica história de Adão e Eva, onde a mulher tornou-se socialmente vista como a causadora dos males do mundo, e todos parecem ignorar o fato de que Adão comeu o fruto por interesse seu. Digamos que, de alguma forma, Adão tivesse negado a mordida e Eva o tivesse amarrado e forçado-lhe a comer (quase como a ditadura apoiada pelo professor Eduardo Gualazzi ), o que mudaria? Digo, Adão teria o conhecimento da mesma forma, a mulher continuaria sendo a antagonista e o homem sempre seria a vítima que não consegue se controlar e culpa a mulher pelo abuso que faz. O poder da ereção seria o mesmo.

Mas Adão foi livre. Somos livres para fazer o que consideramos cabível, e sei que posso soltar um balão acreditando que ele levará todas as minhas mágoas para o céu. Mas nada justifica querer empurrar um fruto na boca de outra pessoa. Sou pomposo porque quero, e se quero, isso cabe apenas a mim, correto?

Então vi-me refletindo pela quarta vez sobre o caso do professor Eduardo, e coloquei-me diante de um grande impasse: a disseminação de um pensamento repressivo sendo calado com uma repressão. Gostei do que os alunos fizeram, gostei pra caramba, mas até que ponto é correto invadir um território para corrigir seus traços? Afinal, numa sala de aula universitária, posso me impor, ou recusar-me a escutar algo que não me agrada retirando-me da sala sem que isso me traga grandes prejuízos. Mas ao mesmo tempo, creio que qualquer um que ocupe uma posição de influência deve estar sujeito a intervenções e saber lidar com isso.

É questão de saber lidar com o que te opõe, e é essa a maior falha que observo nessa nova onda de brasileiros revoltados com a situação atual. Gritar é efetivo, mas saiba argumentar. Encarar é preciso, mas deixe que o outro fale. Se algo te cala, das duas umas: você deve estudar mais, ou deve rever seu ponto de vista.

Tome Javert como um exemplo, e refilta sobre seus Jeans Valjean. Se necessário, pule.

Vi-me no futuro, dando aula, com tatuagens no corpo e ideologias um pouco fora do comum. Pensei até que ponto eu saberia defender o que acredito, e até que ponto o que acredito é, de fato, ideia minha. E entristeço-me ao saber que uma boa defesa não me livrará de convenções sociais que considero retrógradas.

Então lembrei-me, ao ver uma docente defendendo com unhas e dentes os rituais formais de uma graduação e esquecendo-se que aquelas seriam suas últimas palavras para muitos de seus admiradores. Muitos ali jamais a veriam novamente.

Imagino se como seria se Picasso tivesse trocado suas supostas últimas palavras ("Bebam a mim, bebam à minha saúde, vocês sabem que já não posso beber mais.") por um discurso sobre como sua vida era difícil, as pessoas ingratas e vagas demais para compreender sua arte. Ninguém lembraria. É necessário simbolismo e jogo de cintura para provar que o simbolismo é, de fato, necessário e bem vindo. A reclamação que demora a sair machuca a quem a profere e a quem a ouve. Algumas lacunas criadas pela ausência de palavras, infelizmente, não podem ser preenchidas sem criar crateras. Saiba desabafar e saiba que nem todos precisam ouvir críticas direcionadas.

"Fuck beauty contests. Life is one fucking beauty contest after another."

(Dwayne - Little Miss Sunshine)

Às vezes a necessidade de exibição e exposição torna-se maior do que a situação em que ela precisa ser exposta,  e isso é completamente incoerente. É inadmissível que o concurso de beleza se torne maior que a beleza em si. Que sejamos pomposos, caso queiramos. Que ofereçamos frutos, aceitando negações. E que falemos o que queremos, porém no tempo certo. Nunca se torne maior que a ideia que você prega.
Um dia estarei no microfone, e tenho medo do terno e da gravata. Tenho medo da seleção de palavras soberbas e pedantes que o futuro me obrigará a fazer, e tenho medo do futuro.

O futuro me assusta, não pelo medo das mudanças, mas pelas certezas das coisas que sei que não mudarão.

Após sair daquele auditório, em forma de protesto, peguei um caminho diferente para casa.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Se joga pintosa, põe o que quiser!

Se você tem conhecimento dessa música, lembra-se da sua reação ao ouví-la. Se não, aperte o play e guarde seus pensamentos antes de ler.




Quem nunca ouviu na vida um "se joga pintosa" por aí, ou até falou, sabendo ou não do que se tratava? Era um daqueles virais que vinham independente de sexualidade. Cresci ouvindo essa frase servir de ataque a homossexuais de todos os tamanhos, idades e estilos. Até que ontem, recebi este link de um amigo incrédulo: não era possível desconhecer o hit de Léo Áquila.
Léo Aquila - nome desconhecido por mim até então, provavelmente devido à distância que cultivo entre mim e a TV - me provocou inicialmente a impressão de que eu daria risadas. É a impressão que temos ao receber links de Drag Queens falando gírias LGBT em vídeos do YouTube. Me surpreendi ao ver que um dos maiores memes homoafetivos de todos os tempos vinha de um vídeo de autoaceitação com uma imagem de apoio disfarçada por trás de todo aquele glíter.
Vergonha.
Vergonha foi o que senti ao notar o pensamento mecânico que se formava em minha mente ao ver a imagem de alguém que possui um gênero diferente do sexo. Naquele momento compreendi a famosa frase: usada também, muitas vezes, de forma intolerante:

(ilustração: Gabriel O! )

No segundo em que eu soube do que realmente tudo aquilo se tratava, pus rosa.

Como homossexual assumido desde os 17 anos, sei o que é crescer sendo a criança diferente, sei o que é ter dedos apontados para você em todos os lugares. Sei o que é lutar pelo direito de amar. Não me fazendo de coitadinho. Orgulho-me do que sou, do que me tornei, do que passei e do que conquistei por ser assim. Ter uma sexualidade considerada disfuncional diante dos padrões heteronormativos da sociedade não dói mais, mas deixou cicatrizes emocionais e físicas.
Por saber o que é ser a "pintosa", sei quão difícil é "se jogar". E sei quanto tempo o rosa (obviamente tido como metáfora) demorou para ser cogitado.

Mas apesar de tudo, nunca soube o que é se sentir preso num corpo errado.

Já ouvi muitos ditos defensores da igualdade de direitos dizerem que é preciso ser muito homem para ter a coragem de viver num outro sexo, mas creio que é preciso ser muito mulher (obviamente, falo de transgêneros nascidos no sexo masculino). Ser mulher, com todas as letras. Masculinidade não é sinônimo de coragem. Então, lembrando-me do que passei usando jeans e camiseta, me vi sufocado ao imaginar a dor da prisão interna e da acusação externa. Então dei play na música mais uma vez.
Não, não era um hit de zombaria. Não era apenas um hino gay. Não era um vídeo que vinha para mandar todos mudarem de sexo, se afeminarem e usarem uma única cor. A mensagem era simples: se joga.
"Cansei dessa história de ser forte pra tudo aguentar,
Se fingir de feliz é bancar a trucosa,
Eu quero é mostrar que sou poderosa!"

A questão transcende sexo, gênero e sexualidade. O vídeo inteiro é uma afronta aos padrões impostos pelo mundo, e num mundo onde lâmpadas são quebradas nas cabeças dos amores de mãos dadas, estar disposto a não apenas assumir-se, mas não ter vergonha de mostrar-se rosa no meio do azul.
Ou roxo, ou verde, ou cinza, ou multicolorido.
A questão é parar de fingir. Achar-se bonito, dançar do seu jeito, e se jogar na vida, sem viver a secreta vida das calcinhas por baixo do terno e da gravata.
De rosa, de azul, de preto, ou peladx. Se joga!

 
 “Armários são feitos para guardar coisas e não pessoas”
 Léo Áquila

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Her e os Amores Incomuns

[AVISO: O TEXTO ABAIXO NÃO É UMA RESENHA, E SIM UMA ANÁLISE, POR ISSO, DEVERÁ CONTER SPOILERS]


Inicialmente, a ideia passada pelo filme pareceu tão próxima e possível que me assustou. Comecei a pensar em como escreveria sobre o amor pré-fabricado, a dependência tecnológica e a extinção da espécie humana. Me deparei com um homem de quase meia idade, com problemas de relacionamento, apaixonando-se por um sistema operacional que também estava apaixonado por ele. Demorei para aceitar Samantha - o nome escolhido pelo SO - como alguém que tinha reais sentimentos, acreditei - e não sei se desacredito - que a tecnologia humana nunca seria capaz de reproduzir emoções. Samantha era programada, e por mais que fosse vendida como um cérebro em constante evolução, era uma máquina. Seu amor era fabricado.


Então vi que, de certa forma, todo amor é. Levando em conta que nosso cérebro está em constante atividade, e que usamos apenas uma ínfima parte dele, não sabemos o que fato acontece dentro de nossa mente e nosso subconsciente. Julguei os sentimentos de Samantha como incompreensíveis, sem parar para pensar que os meus próprios também eram.



Então o filme mudou de rumo, mudando o rumo de minha análise. Foi um daqueles filmes que vemos na pior hora certa - ou melhor hora errada, não sei dizer. Há exatas vinte e quatro horas cheguei ao fim de um relacionamento. Um relacionamento aberto, com grande cumplicidade, amizade acima de todas as coisas, carinho inexplicável e sinceridade incondicional. Um romance que eu nunca soube explicar quando tinha que falar sobre.  G. (minha Samantha) me descrevia como: "mais que um amigo, menos que um amante, melhor que um namorado". Logo, o relacionamento de Samantha e Theo deixou de ser absurdo, cheio de estranheza e possível razão do apocalipse para tornar-se um amor puro, diferente, e que não caberia a mim julgar, assim como não cabia a ninguém mais tentar compreender o que eu tinha com G.
Ao perceber que não cabia a mim entender, eu entendi. E ao entender, cheguei à conclusão: o amor transcende corpos, e não importa quem fabricou quem.



 
Eles nunca se tocaram, Theo nunca viu o rosto daquela que o havia feito livrar-se de um passado de amarras (assim como G. fez comigo), e eles nunca precisaram tirar uma foto ou pegar nas mãos para cantarem juntos. "There's no thing I'd keep from you/ It's a dark and shiny place/ But with you, my dear/ I'm safe and we're a million miles away", a música deles dizia. Eles se cuidavam e se davam segurança. Comecei a me ver no meio dos dois, comecei a me sentir Theo, comecei a associar G. e Samantha. Amar-se sem toque estava ok no meu caso e no deles.
Samantha era capaz de ler um livro em menos de um segundo, mas teve que parar para pensar no que sentia. Theo nunca deixou de estar confuso. E espero que nesse ponto, eu não precise mais citar meu nome ou de G. para concluir esta análise. Neste momento, nós e os personagens nos tornaremos um só.
Um lindo romance, que faz até os mais céticos sorrirem ao ver um rapaz dançando sozinho no meio da rua passou diante de meus olhos. Mas assim como no primeiro relacionamento de Theodore, os dois cresceram juntos. O amor era capaz de transcender corpos, mas jamais seria capaz de transcender uma mente cheia de perguntas. Existem perguntas que não morrem com respostas.




Samantha falou sobre outras pessoas envolvidas, e por mais que machucasse, não importava para Theo. Alguns corações são grandes demais para uma só pessoa. Samantha era livre de uma forma que ele jamais compreenderia, e aceitá-la seria a única forma de mantê-la, por mais que doesse - e doía. Creio que em algumas situações, a existência de terceiros apenas fortalece o que se tem entre os primeiros. Os outros eram insignificantes.
O fim de um romance como o deles só poderia ocorrer devido a eles mesmos, e houve um momento em que eles se tornaram grandes demais um para o outro. Onde quer que estivessem, sempre se amariam, se cuidariam, e se mandariam sorrisos.
Para Theodore, Samantha era real.
Para mim, também.

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Frozen - Depressão e Feminismo

Foi pela mania de sair vendo coisa demais em filmes que talvez nem queiram passar isso que resolvi começar a escrever isso em algum lugar. Frozen foi, por coincidência, o último filme que vi e acho que vale a pena registrar alguns pontos.
Note que eu escrevi "registrar".
Sei que sou uma pessoa de opiniões fortes, polêmicas, que discordarão de 90% do que eu disser, mas a finalidade deste blog é registrar o que penso, e apesar de eu estar disposto a discutir, dificilmente mudarei de opinião.
Indo agora ao que importa, o texto abaixo terá spoilers por ser uma análise do filme como um todo, portanto, se não gosta, não leia.




Frozen me ganhou os olhos desde a primeira cena, não sei se pelo 3D impecável ou pelo clima Les Mis que os serrotes me trouxeram. Após isso, meus olhos encheram d'água ao ver o relacionamento de união das duas irmãs, que brincavam despreocupadamente. Era notável que a única coisa que Elsa amava mais que o gelo era sua irmã Anna. Ela tinha um dom, e usava isso para criar bons momentos, mas seu talento terminou causando um acidente, que quase foi fatal a Anna.
Como aspirante a escritor, sei o poder que um dom, por mais belo que seja, tem de machucar, e sei que quanto mais se ama alguém, maior esse potencial. Elsa não ergueria montanhas tão altas por alguém que não fosse significante para ela.
Seus pais levaram ambas aos trolls, que apagaram a magia da memória de Anna, e disseram que aquilo se fortaleceria em Elsa com o tempo. Elsa era diferente.


Trazendo para o mundo real, temos a criança estranha, que por mais fantástica que possa parecer a alguns olhos, será sempre a menina gelada no canto da sala que faz coisas que os outros não fazem. Os pais das meninas fizeram o que a maioria dos pais deste tipo de criança faz: esconderam-na por saber que não conseguiriam mudá-la. Com a retração, não havia a possibilidade do controle, qualquer talento bruto precisa de treinamento antes de atingir a lapidação.
Pela tentativa de proteger, cresceram duas meninas infelizes. Infelizes, porém seguras.


 
As meninas atingem a idade adulta, e Elsa é obrigada a assumir o trono após o falecimento de seus pais, e após o casal - inicialmente adorável - Hans e Anna anunciar seu noivado, o poder de congelamento se descontrola e todos descobrem e temem. Elsa foge e tenta se isolar, e aí vem uma das partes que mais me chamou atenção: durante um esplêndido momento musical, ela liberta-se de suas roupas de rainha, de sua coroa, de seus cabelos presos (que haviam dominado seu visual) e cria seu próprio castelo: duro, gélido, e
 escorregadio.




O isolamento é comum diante de pessoas que se sentem diferentes da maioria (de forma boa ou ruim), e assim como no caso de Elsa, aqueles que se retraem ao frio por não se incomodarem com ele acabam congelando uma cidade inteira. Isso é uma boa metáfora para a depressão. Um castelo gelado e confortável para quem mora nele, mas que destrói lentamente todos que vivem ao seu redor. Elsa se incomodava e atacava quem tentava salvá-la ou invadir seu recanto. Elsa sentia que não pertencia à cidade que era sua, e criou um mundo só seu. A depressão lhe era confortável.
Pessoas dotadas de talentos especiais, especialmente se ligados às artes - escrita, desenho, pintura, oratória, dança e tudo o mais - precisam de certo "treinamento", e por terem uma forma diferente de ver o mundo e sentir o ambiente, têm maiores probabilidades de se renderem à amargura. Lembro-me que uma senhora disse uma vez a uma amiga a seguinte frase: "artista nasce pra sofrer por amor".


E agora, gostaria de fazer um parágrafo para falar sobre o carismático boneco Olaf. Ele foi criado sem que Elsa percebesse. Era retrato da sua infância, memória que ela não sabia ter. Ele representava pequena parte da alegria que ela teve um dia, mas que de tão distante parecia não ser real (fenômeno comum em quem está em depressão). A verdade é que as coisas nunca se apagam, e têm impacto em nossas vidas mesmo quando não lembramos mais delas. Olaf é uma cicatriz.
Anna descobre em Kristoff um excelente companheiro, e vê a personificação Olaf, que fazia parte de sua infância distorcida pelo acidente. E em sua tentativa de salvar a irmã, acaba tendo seu coração congelado, podendo apenas ser curada por um ATO de amor verdadeiro. Em tempos remotos a Disney teria substituido "ato" por "beijo".
Foi a partir daí que a cena que me trouxe toda a reflexão veio.
Os cabelos de Anna começam a se esbranquiçar, e ela aparece de capa roxa e roupas verdes. Anna torna-se idêndica à Elsa do começo do filme após ter seu coração congelado, o que fez com que eu me questionasse: Elsa também teve, mesmo que não da mesma forma, seu coração congelado. Em que ponto um coração se congela? Em que ponto alguém se torna um depressivo? Como saber que estamos afundando? Nem sempre é necessario um super poder penetrando seu peito para que toda sua alegria seja sugada. É gradativo.
E no fim, após uma desilusão amorosa, Anna descobre que Kristoff a amava, e ele corre para dar-lhe o beijo que a salvaria, até que a Disney mostra mais uma vez uma personagem feminina forte e independente de uma figura masculina quando ela corre para salvar sua irmã. Anna vira gelo e Elsa chora enquanto a abraça.
O amor que Elsa reprimiu por tanto tempo a liberta, mostrando que o amor não vem apenas do sexo oposto e de forma romântica. E é aí que Elsa percebe que o amor é a única solução. Assim como o amor de Anna a descongelou, apenas o amor próprio a tiraria do frio que ela fingia não incomodar.
Quando ela se amou, foi feliz.
Como disse Olaf, vale a pena derreter por algumas pessoas.